Wednesday, December 03, 2008

Partilha

deixaste-me assim, prostrada, neste vazio que precede o ontem e antecede o amanhã. enganei-me quando achei que seria fácil, viver sem o teu sopro de vida. subestimei o peso solene da tua ausência e o espaço que (ainda) ocupas nas minhas entrelinhas.

pensei que o mundo avançaria sem ouvir as tuas histórias de cavaleiro andante. ousei também pensar que a minha casa não sentiria a tua ausência,


(...) mas estás em todo o lado. e fazes questão, ainda hoje, de ocupar um território que julguei ser só meu.

Friday, October 10, 2008

O dia depois de ti...


abri a persiana devagar, com medo que o sol me dissesse um bom dia que não queria ouvir. deitei-me de novo e aconcheguei-me nos lençois que guardavam o descanso da noite. ganhei coragem e pisei a madeira fria de uma manhã acabada de acordar.


depois, o duche. a água quente e calmante a percorrer o corpo. o cheiro do champoo a entranhar-se nos poros cansados. a gata a miar, ao longe, ansiosa pelo carinho rotineiro que teimou em não chegar.

por fim, a saída, apressada. a sensação de que fica sempre qualquer coisa para trás. e que, mesmo assim, o mundo avança. sem esperas, hesitações ou pausas. sem tempo para lembranças que não justificam as perdas, ou saudades de momentos que não regressam.

Thursday, October 02, 2008

Viver, para contá-la...

sem querer, deixaste escapar um suspiro no reencontro. não querias falar, e eu compreendi. há muito que aprendemos a respeitar o silêncio dos grandes momentos. fechei os olhos, com a emoção de sentir de novo o teu rosto junto ao meu, o cheiro da tua pele e o timbre dos nossos corações a baterem juntos, num só compasso.

de relance, lembrei-me daquele verão e de como descobrimos que todas verdades têm um prazo de validade.

"que saudades", disseste, por fim.

sorri, tranquila. perdemos o sonho, ganhamos vida.


Wednesday, August 06, 2008

Até breve...

disse eu, baixinho, antes de te perder de vista.


olhei para a mala, entretanto esquecida no chão, e sorri ao lembrar-me das últimas horas. o turbilhão da partida, as coisas para levar e as que devem ficar onde estão. o que é urgente tratar e o que pode ficar para amanhã. os telefonemas de última hora, porque afinal o mundo pode acabar, e as mensagens que não enviei, porque mesmo assim não há tempo para tudo. os sorrisos trocados em família e a promessa de estar mais presente (para o ano, talvez).


até breve,


(a vida segue, dentro de momentos)

Wednesday, July 30, 2008

Leva-me...


...conta-me histórias de embalar (mesmo aquelas que não se cumprem). diz-me que finais felizes são possíveis num mundo demasiado real e onde facilmente nos desencontramos do sonho. mostra-me sítios que só cabem nas fotografias de uma viagem perdida no meio do nada.

...deixa-me sentir saudades de ti, dos dias e das noites que ainda não chegaram. dos sorrisos que ouço ao longe e das palavras que nos fundem num só.

...espera-me à saída do comboio e abraça-me como se não te lembrasses do encaixe dos nossos corpos. dá-me a mão para que não caia nem vacile.

...e faz-me acreditar que é possível (...)


Thursday, July 17, 2008

Por pouco não me apanhaste...

... acordei com os primeiros raios de sol e com a preguiça de um dia que teima em nascer. deixei-me ficar por alguns instantes, para recordar com detalhe os fragmentos da noite anterior.

... vi(vi) tudo outra vez. o encontro casual na rua, seguido de um café tardio na primeira esplanada que avistamos. a conversa que parecia não ter fim, a vontade de estarmos juntos e a saudade da despedida. os beijos sôfregos e o sono tranquilo nos teus braços.

... vesti-me devagarinho e olhei-te enquanto dormias. despedi-me lentamente e fechei a porta sem olhar para trás.


levo comigo tudo o que preciso. até uma próxima vez.

Thursday, June 26, 2008

A vida, tal como é...

crua e absoluta. sem tempo para entrelinhas nem espaço para hesitações.

a vida, naquele instante que muda tudo (que nos muda). porque não há alternativa, quando o inesperado nos bate à porta e entra em surdina na silenciosa quietude do amanhecer.

a vida, sem esperas.

a vida, como fogo. que arrebata, queima e marca.

a vida, tal como é.

Sunday, May 25, 2008

A Mafalda...

"temos de trazê-la hoje"

não podia ser amanhã, nem depois. tinha de ser hoje, e não me deixaste margem para manobras nem desculpas.

dito e feito. passado umas horas já íamos a caminho, com o sol tímido de maio a acompanhar-nos. alguns minutos de espera (interminável) no sítio marcado e entretanto chegaste. vinhas acompanhada da tua irmã e quando a janelinha se abriu foste de imediato ter comigo. afinal foste tu que me escolheste.

não arranhaste nem estranhaste, como se conhecesses o meu colo desde sempre. quando olhei para ti esqueci as dúvidas e senti, enfim, que também estava à tua espera.

Wednesday, May 21, 2008

O (des)encontro (por ele)...

... lembro-me como se fosse hoje, com a nitidez que só os bons e os maus momentos possuem. lembro-me dos minutos que antecederam a chegada a tua casa, a estrada molhada pela chuva, a música interminável num rádio distante e aquele frio do estômago, que sinto quando penso em ti.

lembro-me da saudade avassaladora ao bater na tua porta e do sorriso tímido quando te vi, como se fosse a primeira vez. abracei-te mais tempo do que os meus braços suportaram e envolvi-te num olhar de quem nunca mais quer perder. não sei se te disse, mas estavas linda, linda, linda.

se os momentos perfeitos existem queria tirar uma fotografia daquela noite de inverno tardio. para guardar para sempre a chama que só a vida pode ter. para eternizar, minha princesa, este amor, infinito, que sinto por ti.

(...)

Saturday, May 10, 2008

O (des)encontro...

não me lembro se foi a última ou a penúltima vez em que estivemos juntos. para ser sincera, não me lembro da data, nem se era dia ou noite. não me lembro da chegada, nem da partida nem dos entretantos que vivemos.

lembro-me do que senti, ao olhar-nos. lembro-me da tristeza contida e da certeza inesperada do fim. lembro-me dos teus olhos - pequeninos - a procurarem os meus, que deixaram de esperar por um futuro a dois que não chegou. lembro-me do silêncio do "adeus" que só eu escutei, e das lágrimas solenas que guardei para mim.

Saturday, May 03, 2008

Passado...

como uma suave brisa de primavera, embalada pela nublina matinal.

assim saíste da minha vida, mesmo sem te aperceberes.

Tuesday, April 01, 2008

Instante

passei por ti quando as luzes da cidade se tinham apagado. nas ruas ouvia-se o murmurio sereno de um dia que esperava por acordar. as casas guardavam os segredos de uma vida que ousava desafiar o tempo. as pedras da calçadam aguardavam a companhia de quem não tinha para onde ir.

passei por ti e senti o perfume da tua pele e a leveza de quem flutua sobre os obstáculos. olhei-te, por instantes, e reparei no sorriso escondido da tua face, que não conhecia. e, então, despedi-me com a certeza de que um dia nos cruzaríamos de novo.

Sunday, March 30, 2008

A cidade esta deserta...

"e alguém escreveu o teu nome em toda a parte

nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas...

em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura

ora amarga,ora doce

para nos lembrar que o amor é uma doenca

qando nele julgamos ver a nossa cura"


[Ornatos Violeta]

Wednesday, March 19, 2008

Procuraste-me por todo o lado...

no silêncio solene de uma sala vazia, numa rua pintada pela luz do luar, no andar apressado de quem se atrasa, na voz ansiosa de quem espera, no sorriso apaixonado de quem descobre a paixão, no olhar perdido de quem descobre que nada é certo,

procuraste-me,
para te encontrares também a ti.

Saturday, March 01, 2008

Não me largues, senão caio...

encontraram-se no meio da chuva e do vento que se fazia sentir desde o início da semana. ninguém estava na rua, naquele momento, excepto os dois. olharam-se longamente, ele no alto dos seus 25, ela na doce inocência dos 20.

era como se o mundo fosse pequeno demais para os sonhos que tinham construído, a dois, nos últimos dois meses (os primeiros do resto das suas vidas). era como se a realidade fosse cinzenta demais, para a alegria dos seus sorrisos, para a paixão intensa e urgente que os unia.

inesperadamente, ele pegou na mão dela e começou a correr, primeiro devagar e depois depressa, cada vez mais depressa. "para onde vamos?", perguntou ela sem na verdade querer saber a resposta. ele compreendeu a não-pergunta, sorriu e lembrou-se de como amava estas cumplicidades silenciosas.

"não me largues, senão caio!", disse ela com o cabelo desalinhado pelo vento. "nunca, meu Amor!", sossegou ele, apertando-lhe a mão com mais força e enroscando os dedos nos seus.


e assim continuaram, a correr juntos, pela vida fora.

Wednesday, February 27, 2008

Overwhelmed...

com a incerteza sobre o caminho a seguir,
com a possibilidade de não recuperar o tempo perdido,
com a sensação de dever não cumprido,
com palavras soltas e sem sentido,
com actos que ficam pela intenção,
com a superfície daquilo que a vida pode ser,


intensa, plena, completa.

Tuesday, February 26, 2008

P.S. I love you


não deixes para amanhã,
o que podes dizer hoje.

Sunday, February 24, 2008

Se compreendessemos...

o Amor,

não sentiríamos a solenidade das palavras nem do silêncio,
não precisaríamos de música nem de luar.

não mais conheceríamos a solidão das noites geladas,
nem ouviríamos o cantar triste das aves que voam em liberdade.

porque o Amor bastaria.
e seria o único norte a orientar o caminho para casa.

Thursday, February 14, 2008

Como um sonho...

sim, sussurrei-te ao ouvido durante a noite, mas não para acordares. queria apenas lembrar-te que não me esqueci de nós. por isso, falei-te de terras e cidades que (ainda) gostava de descobrir contigo. lembrei-te das coisas que temos para conquistar, com aquele entusiasmo que sempre nos uniu (e une). acariciei-te ao de leve, e fixei-me na expressão serena com que dormias. não pude deixar de reparar nas rugas que contornam os teus olhos, marcando a passagem imperdoável do tempo e da vida (que absorves em fôlegos ansiosos e urgentes).

deitei-me ao teu lado, e deixei-me ficar. nenhum sítio do mundo me completa como este, ao teu lado.

Thursday, February 07, 2008

Afinal enganaste-me...

deste a entender que ías embora, e que nunca mais te iria ver.

disseste que me esquecias, e que apenas as fotografias lembrariam o que fui para ti.

juraste a pés juntos que a tua vida já não tinha espaço para o meu sorriso nem para as minhas lágrimas.


enganaste-te...

porque o Amor não acaba quando queremos,

nem tão pouco fecha portas com a mesma força do que as abre.

Friday, February 01, 2008

Se vos escrevesse uma carta...

diria que é um orgulho fazer parte da vossa vida. de poder partilhar, o tanto que vivi e o que espero viver um dia. de encontrar no vosso colo o melhor embalo nas noites de tempestade. e de sentir no vosso sorriso, a ternura que não se corrompe com o passar dos anos.

diria que não há um dia que não pense em vós, e que nos meus sonhos nos reveja juntos, como dantes. porque há momentos que ficam para sempre guardados, como o daquela noite em que me abraçaram, lembrando-me que os sonhos não se perdem, se tivermos coragem suficiente para neles acreditar.

diria que, contra obstáculos e (in)certezas, me mantenho firme. se não vacilei, foi também por vós, meus queridos. foi pela vossa força que, tantas e tantas vezes, me deu a mão e me fez seguir o caminho certo. a mesma força que segurou as minhas pernas, quando estavam prestes a fraquejar, e que se manteve a meu lado, quando precisei de parar.

Thursday, January 31, 2008

Aquele era o tempo...

em que os teus cabelos voavam num sopro livre, deixando ao acaso a brisa que ousava neles tocar. o tempo em que os teus dedos de veludo me indicavam o caminho a seguir. em que os meus passos eram seguidos pelos teus, mesmo quando não havia estrada para percorrer. o tempo em que dançavamos sem música, e as nossas caras se tocavam mesmo a quilómetros de distância.

Monday, January 28, 2008

Mudanças e afins...

primeiro estranham-se,

depois entranham-se.

Wednesday, January 23, 2008

Então é assim...

há histórias que não terminam e se reconstroem na incerteza de que o amanhã será melhor. que ganham uma nova vida perante a vontade infinita de caminhar sem horizonte. que renascem com a verdade que só os sentimentos puros possuem. e que, por isso mesmo, não esperam mais do que aquilo que sentem (não será isso mesmo, a felicidade?)


há histórias que terminam, sem sequer começar. que se esgotam na urgência e na angústia do fim. que não esperam pelo dia seguinte, nem dão espaço para entrelinhas e silêncios. que não conhecem senão a chama da paixão que, inevitavelmente, se extingue. a chama que num instante se acende e no instante seguinte se apaga, deixando apenas cinza como lembrança.

Friday, January 18, 2008

E no entretanto...

inventei-me nas entrelinhas dos espaços em branco e do silêncio que tantas histórias guarda em si. permiti-me contemplar o tempo e o momento como se os visse pela primeira vez. embalei-me nas danças de corpos que se cruzam e chocam para descobrir o sentido da caminhada. fixei-me em olhares que não conhecia e fugi dos que me lembravam o que não queria. sentei-me à espera que o vento me levasse para bem longe e ele, ao passar por mim, parou e segredou-me ao ouvido:


encontra-te a ti mesma, e encontrarás a tua casa.

Saturday, January 12, 2008

Depois do ramo...

"Estranho como o sorriso de um bisturi.
Íntimo como um olho sem pálpebra aberto na nossa mão.
Deslumbrante como o rumor da passagem de um unicórnio.
Fiel como a súbita seda negra do medo.
Temível como o brilho da espada de fogo de um arcanjo.
Submisso como as ondas que rebentam contra a praia de um peito.
Devastador como a clareza de um olhar num espelho quebrado.
Inevitável como a ferida feita pela chuva num coração de pedra,
o amor chega um dia à nossa vida e nós não estamos."

Abelardo Linares (Trad. Joaquim Manuel Magalhães)


...E agora?...

Saturday, January 05, 2008

Lembrei-me hoje de ti...

... e do momento em que me deste aquele colar de pérolas brancas com o orgulho que só as avós têm, do alto da sua sabedoria:


"para ti, minha princezinha!"


eu arregalei os olhos, como ainda hoje faço quando a vida me apanha desprevenida, e agradeci com um sussurro. lembro-me que nunca tinha gostado tanto de um colar, como daquele. e embora não tivesse idade suficiente para o usar, senti-me a mais afortunada das meninas. afinal, há tesouros que resistem estoicamente à erosão do tempo. e esses, são os mais preciosos que podemos alguma vez guardar.

Thursday, January 03, 2008

O melhor do início do ano...

... é a esperança de que tudo será melhor :)