Sunday, November 29, 2009

Infinito


e assim acredito,
que o Amor, quando infinito,
é a força das ondas a quebrar na areia,
é vento e fogo,
princípio, meio e fim,
é profano e sagrado,
destino e escolha.


(somos nós, meu amor.)


Friday, November 20, 2009

É oficial

esqueceste
-me

não saiu em diário da república, nem abriu as honras do jornal da noite. as rádios não o anunciaram de madrugada, nem os estádios se calaram por um minuto.

não houve choro, nem dor. a boca voltou a sorrir e os olhos, secos, deixaram de me procurar.

o silêncio continuou mudo e as palavras mantiveram a semântica. a noite seguiu-se ao dia, e o verão passou a vez ao outono. o sol velou a chuva, que rompeu a timidez dos meses sem gabardines.

e contra todas as expectativas, as aves não cessaram o voo, e o mar continuou a ondular no horizonte infinito.

esqueceste
-me, é oficial,



claro. (a lembrar que a vida não tem compasso de espera)

Sunday, November 15, 2009

Qualquer coisa de bom

e o vento soprou tão forte
que o meu coração, solitário,
foi em busca do teu
para não mais bater sozinho.


Friday, November 06, 2009

Quase amor

pensava que me tinhas levado só o beijo, roubado, naquela alvorada de todos os sorrisos e promessas. tímido, num primeiro fôlego, mas depois húmido e sôfrego, a fintar a luz do dia a nascer. e as mãos que eram tuas passaram a ser minhas, nossas, num entrelaçar que se perdeu na linha do horizonte. e os olhos, fechados, guardaram o sabor a baunilha e canela inventado para aquele encontro.

levaste o beijo, sem pedir nada em troca, e o tempo agradeceu por ter ficado suspenso, pousado em nós.


e o beijo, meu amor, afinal levou-me contigo numa valsa, ritmada e infinita,

a caminho de casa.


Friday, October 23, 2009

Se todas as histórias fossem assim


e a menina fez-se moça, depois mulher. trocou as sabrinas de cetim, pelo alto dos sapatos, o laço dos calções, pela roda dos vestidos. pegou nas cores do arco-iris e pintou-se de rosa e branco. embrulhou-se nos malmequeres e acordou num campo de girassois. guardou os bilhetes de folhas queridas, que transformou em cartas de amor infinito, deixando-os no baú das coisas suspensas no tempo. recordou as tardes sorridentes e olhou nos olhos as noites românticas na cidade de todas as histórias. disse à cinderela que o príncipe se tinha atrasado na viagem e deixou-se ir em busca de um caminho que não olha para trás.

e a mulher, que ontem se deitou menina, admirou-se por breves instantes e seguiu em frente. porque, afinal, a vida continua.


Tuesday, September 29, 2009

Sim

"casas comigo?" anunciaste, sem medo, do alto do teu metro e noventa de altura. não sussurraste, nem vacilaste. disseste, seguro, como se não esperasses outra resposta senão o sim.

irresistível, pensei eu, já absorta e vulnerável perante a certeza de que ficaríamos juntos para sempre. julguei que momentos como este vinham embrulhados de papel fantasia e músicas de embalar. imaginei-os mais conto de fadas, com sapatos de cinderela numa noite de lua cheia.

mas este momento não se disfarçou de nada, nem quis ser senão o que significou. por isso foi imenso, único, e nosso. mesmo não estando a sonhar, fechei os olhos, e envolvi-nos num longo abraço, sem fim à vista.


tínhamos 17 anos, e o mundo pela frente.

Wednesday, September 02, 2009

Paper Planes

se, na noite anterior, ela tivesse pousado o despertador na cabeceira, se a cama no dia seguinte não estivesse confortável, se o duche não se tivesse prolongado mais do que o habitual, se não tivesse tropeçado na roupa por arrumar, se a chuva não a tivesse obrigado a procurar pelo chapéu, guardado no fundo de uma gaveta, se não se tivesse esquecido do telemóvel em cima da mesa,

se a noite de copos, risadas e amigos não se tivesse prolongado, se o despertador não o tirasse dos sonhos tranquilos de uma noite sem sono, se não tivesse marcado aquela entrevista, quase de madrugada, se tivesse apanhado a boleia do vizinho do 5º esquerdo uma hora mais tarde, se o carro não estivesse esquecido numa oficina sem prazos,

não entrariam naquele metro, separados, para saírem uma hora depois, juntos, no coração da cidade.

ela chama-lhe destino,
ele uma coincidência.

Friday, August 21, 2009

Noite de Verão

devia ter percebido, que aquela seria a nossa última noite de verão.

o sol tinha demorado a esconder-se e no ar pairava uma brisa intensa a areia queimada e a maresia. a calçada da rua guardava as conversas e os silêncios de um dia que só agora parecia descansar. no céu permanecia uma cor laranja fogo, talvez um prenúncio do que iria acontecer.

ao sair de casa, vinha apressada e alheia a tudo isto. pensava em ti e no último - longo – mês partilhado ao telefone. tentava recordar-me de todos os pormenores do teu rosto. os olhos azuis tímidos, que tantas vezes me falavam enquanto nos olhávamos em silêncio. a boca pequena e delineada, que tão bem se fundia na minha. as covinhas das bochechas, que mostravas em segredo, porque só alguns momentos merecem um sorriso. e o teu cheiro (será a baunilha?...) que me fazia tropeçar em ti onde quer que estivesse.

até que te avistei, ao longe, e o meu coração correu para ti, meu amor, mas os meus pés teimaram em caminhar lentamente, para te saborear sem pressa. quando sorri e baixaste os olhos julguei que se devia à timidez da saudade. agora sei que, mais uma vez, os teus olhos me falavam em surdina.

primeiro, a confusão. incertezas e meias verdades. recordo-me de dizeres que o nosso amor (ou disseste paixão?) te sufocava e que devia ser imenso o sofrimento de ser-se deixado por mim. acrescentaste, sem piedade, que este pensamento te perseguia de dia, e nem de noite te dava descanso.

depois, a raiva e o pânico. pelo que vivemos e pelo que se perdeu. por saber que era definitivo (há muito que deixamos de acreditar em segundas oportunidades). e os sonhos a dois? e a promessa de que ficarias comigo para sempre? e os beijos que ficaram por trocar? e os bilhetes que não escrevemos? e as palavras que não lemos? e a nossa vida, sem ti?

no fim, ficou apenas a dor, a imensa dor da despedida. saíste da minha vida tal como entraste, sem aviso prévio. dizias, com solenidade, que o melhor está no que vivemos entre o início e o fim das coisas. quem sabe se, mais uma vez, anunciavas o início do fim.

ainda hoje, detesto essa mania irritante de teres sempre razão,

meu amor.

Sunday, March 22, 2009

Palavras Soltas

não te falei,

dos domingos ao relento, iluminados pela doce quietude dos momentos inquebráveis; dos livros que li e de todos os que aguardam por uma oportunidade; das músicas que acompanharam os muitos caminhos que escolhi e de todas as outras que me resgataram num instante qualquer; dos dias regados pela chuva, com cheiro a terra molhada; das noites cravadas de estrelas e de promessas que jamais se cumpriram.

falei-te de Amor, meu amor,

e da espera (vigilante, atenta, tranquila) que vivemos para o descobrir, enfim.

Sunday, March 08, 2009

Demais

pensava que os dias viriam sempre acompanhados do tic-tac do relógio. enganei-me.

se há dias que nos fogem num ápice, a mostrar que a vida não espera por uma segunda oportunidade; há dias que ficam repousados na penumbra de um resgate que não chega.

foi um dia assim, maior que o próprio tempo, que me apanhou desprevenida. um dia que, ao nascer, não saudou o sol nem se despediu das estrelas, pois sentia-se demasiado só para querer a companhia dos astros. um dia com tantas pessoas quantas aquelas que não desejava ver, nem ouvir, pois apenas o som do silêncio parecia acalmar o turbilhão inquieto das feridas que voltaram a abrir.

um dia que durou mais do que as 24 horas ditadas pelo destino. um dia que não se cansou mesmo com a dormência causada pela intensidade que vivia dentro de si. um dia que não quis passar sem a certeza de ser recordado, um pouco mais adiante.

Sunday, January 18, 2009

Despedida

as cinzas, do fogo que ainda restava, foram lançadas no cimo daquele paredão onde o mar encontrava algum descanso. saboreaste o momento, como se há muito te quisesses despedir de uma história que, sem querer, tropeçava na tua vida. não te vi chorar, mesmo quando as gotas de água salgada pintavam a tua cara e se confundiam com lágrimas que não derramaste. permaneceste serena, impávida, tranquila (passou, enfim, o tempo em que a dor consumia os teus dias e noites, como uma secreta vigilante).

e assim foste embora, sem olhar para trás. a lembrar que as novas histórias são escritas numa folha em branco.

Sunday, January 04, 2009

Chispa de vida

a noite, que não chegou a adormecer, deu lugar à neblina matinal do primeiro dia de 2009. alguns resistentes teimavam em regressar a casa e vagueavam, perdidos, na esperança de um novo ano. ao longe, ainda se ouvia o último rastilho de uma festa que parecia não terminar. no fundo da rua, um casal de adolescentes jurava amar-se para sempre, na doce inocência do infinito.

de repente, avistei-a, sozinha. não me esqueço - tinha o tal brilho no olhar.

flutuava, alheia ao que se passava à sua volta. seguiu, determinada, como se há muito esperasse por aquele momento. e em passos rápidos, apressados, urgentes, caminhou pela praia até mergulhar, por fim, na água cristalina deste dia 1. apesar do frio, deixou-se ficar e mergulhou mais uma vez, e outra, e outra ainda.

saiu do mar e vestiu-se, com os olhos postos no horizonte. passou por mim a sorrir e eu, inesperadamente, sussurrei-lhe um "Bom Ano",

baixinho ainda lhe ouvi "Está a ser..."