Tuesday, July 13, 2010

A princesa que quis ser menina

peguei no carro e parti. lembro-me que estava nevoeiro e que a estrada parecia deserta, lembro-me que não encontrei caras conhecidas nem cartazes a anunciar histórias felizes de cinema. lembro-me que era verão mas não avistei praias ou esplanadas, nem tive calor apesar do casaco vestido à pressa. lembro-me que nem sequer me despedi de ti, talvez porque o "adeus" há muito estava anunciado. parti sem destino, a fintar os planos do dia seguinte e do que vem depois. esqueci o telemóvel, despertador, o computador, a agenda, as reuniões, os compromissos com amigos, os aniversários, o almoço de domingo em família e as férias reservadas. esqueci porque sim, porque tinha de ser, porque era urgente. esqueci tudo porque me cansei. é isso mesmo. cansei de dizer "está tudo bem", de responder segundo a etiqueta, de andar no sentido da marcha. cansei de não chorar, de remar sozinha em alto mar, mesmo não percebendo de navegação e afins. cansei de (re)inventar histórias que afinal são de ninguém, de querer finais felizes porque um dia alguém falou de príncipes e princesas e castelos.

sim, parti. não sei quanto tempo passou, nem que tempo passou. não sei se o outono despiu a cidade que tantos dias vi a amanhecer, nem se o inverno lhe trouxe o encanto das luzes de todas as cores a anunciar que é natal. não importa, por agora. afinal, o tempo sabe esperar por quem ousou deixar tudo para trás para não abdicar de ser feliz.