Sunday, January 24, 2010

Cinderela

se o mundo te descobrisse, como eu,
tenho a certeza que o sol se esconderia,
envergonhado,
ao ver o brilho do teu sorriso,
qual cinderela
ainda a acreditar no (amor) que não chega.

Tuesday, January 19, 2010

Palavras que não esperam

falei-te hoje ao ouvido. não consegui escolher as palavras, desculpa. queria dizer-te as melhores, as que mereces, as que não podem ser esquecidas. falei-te de trivialidades, do novo filme no cinema, da revista que comprei no fim-de-semana, do último restaurante que me surpreendeu. falei-te do tempo, do frio que me acorda de manhã, do sol que desponta a medo durante a tarde, da lua cheia que ilumina as noites que parecem não ter fim. falei-te de amigos que não vejo mas que a memória não esquece, daqueles que me acompanham em todos os momentos, dos novos amigos que me pegaram pela mão. falei-te das coisas que ficaram por fazer, dos papeis que se amontoam no fundo da gaveta, dos sonhos que ainda espero concretizar. falei-te de lugares que perduram na minha lembrança, das pessoas que conheci sem sequer falar, dos sorrisos que retribuí sem pedir nada em troca. falei-te das ruas que percorri sem parar, das caminhadas com o sol a queimar o chão, dos passos ansiosos de quem espera pelo que não chega. falei-te das certezas e incertezas que invadem os meus dias, das perguntas que ouso fazer, das respostas que procuro sem vacilar. falei-te dos poetas que quero ler, das músicas em lista de espera, das histórias e estórias que recebo de coração aberto. falei-te da rotina das tardes preguiçosas, do alvoroço de um dia que começa sem despertador, das noites que percorro sem destino. falei-te de gostos e desgostos, do que fica para sempre e do que se perde irremediavelmente. falei-te de encontros e ausências, caminhos solitários, conquistas partilhadas, de lutas que ainda quero travar e de tantas outras que já não são minhas, nem de ninguém.

falei-te ao ouvido e, sem te querer acordar, sussurei "amo-te".
o resto fica para depois.


Saturday, January 16, 2010

Quero-te muito (por ele)

pergunto-me se já acordaste, ou se ainda dormes com as mãos entrelaçadas para não deixar escapar os sonhos que te visitam à noite. talvez tenham passado duas, três ou quatro horas desde que te olhei e saí porta fora, apressado, com o peito apertado de tanto amor. talvez tenha passado mais tempo até, não sei. a vida não pode esperar, mesmo quando é o vazio da tua ausência que me espera. despedi-me lentamente e olhei-te, uma e mais outra vez, o cabelo desalinhado, as costas descobertas, os braços esquecidos sobre os lençóis, o rosto sereno. nunca te disse, mas enquanto dormes tenho quase a certeza que o mundo à tua volta pára a admirar-te, como eu nesta madrugada sem alvorada. enquanto dormes sei que és finalmente livre, senhora do teu destino, guardiã de todos os segredos. por isso a vida dá-te tréguas, baixa os braços, nada mais espera de ti senão o descanso merecido. queria ter-te visto a acordar, ou acordar-te com um amo-te sussurrado ao ouvido. queria sorrir ao ver-te encolher os ombros, com os olhos pequeninos ainda fechados, como se ainda fosse cedo demais para falar. tu e a ideia de que há horas marcadas para as coisas certas. tu e a mania de teres sempre razão, de saberes sempre o que queres, mesmo quando não sabes e finges ser dona da situação. tu, caramba, como és linda nessa segura fragilidade de quem nunca pediu para crescer. arrepio-me só de lembrar como te quero, sem limites ou prazo de validade. quero-te nos passeios, nas esplanadas, nos domingos ao sofá, nas estreias de cinema, nos jantares inesperados, nas viagens sem planos. quero-te tanto. quero-te à minha espera quando chego a casa. e quero esperar por ti no final do dia. quero-te no verão, no inverno, sem esquecer a primavera e o outono. quero-te sempre, sempre, mesmo quando não te quero.


Tuesday, January 12, 2010

Quero-te muito

hoje, ao sair da cama, tropecei na tua ausência. passaram duas horas desde que saiste, ainda de madrugada, com o meu cheiro entranhado no calor do teu abraço. não te disse, mas pressenti que ficaste a olhar-me durante algum tempo, demasiado tempo, até te lembrares que a vida chamava de novo por ti.

não quiseste esperar. partiste sem demora, sem vacilar. dizes que os sonhos adiam a vida. e eu prefiro os sonhos do dia-a-dia. os encontros e desencontros, inesperados ou planeados, a surpresa de uma descoberta e o gosto doce de uma vitória. o tudo ou nada, perder e ganhar. o céu é o (meu) limite.

mesmo sabendo isto, preferiste ir embora. logo hoje, que te queria ao acordar. nem precisavas de falar (como tanto gostas) ou fazer-me rir (como eu gosto). queria-te, simplesmente, neste momento sem repetição, nem fotos para contar uma história. queria-te.

não sei se pensaste em voltar para trás ou se esboçaste um sorriso no caminho para casa, se te lembraste de mim enquanto ouvias a tal música ou se fizeste planos a dois para o cinema que estreia amanhã. sei o vazio que deixaste, o rasto de saudade que ficou esquecido em todas as gavetas, e os livros perdidos no sofá que é só teu.


não te preocupes, amor, guardo aqui o teu coração, junto ao meu, para saberes sempre onde o encontrar.