Wednesday, January 25, 2012

Qualquer coisa sobre sim

Sabes como é? Querer muito e mais ou muito mais, querer outra vez e a primeira volta ainda estar a meio. Não querer esperar. Nem saber. Sabes? Rodar até cansar a roda, o fôlego, o vestido. Sabes querer tudo, amor, sabes? E ter. Sabes? Não haver céu demais, azul demais, nem estrelas a mais. As pontes se abrirem em avenidas, os barcos fingirem-se nossos, exclusivamente nossos, e ancorarem na janela do quarto. Não haver vazio. E o resto ser serenata trajada de preto. O branco não se importar com transparências e não corar no primeiro beijo, naquele abraço, na tua vontade dentro de mim. Prometer tudo, sabes? Ter a certeza que as pernas existem para tremer e os braços para abraçar. Que o coração nasceu num dia de sol e se fez adulto no calor da noite que roubamos para nós. Virar tudo do avesso até encontrar. Não conhecer o caminho e depois, num triz absoluto, chegar a casa sem perguntar indicações. Sabes? Jurar a pés juntos que o amor sabe a algodão doce. Porque sabe sempre a qualquer coisa. Não vacilar, não fingir, dizer nunca mais vou dizer não. Vestir o sim de rosa, do mais piroso que há no rosa, e mostrá-lo na rua a toda a gente. E depois, sabes? Há querer tudo. Devorar o prefixo do impossível na primeira esplanada. Voar de pés descalços, mergulhar logo, não hesitar, mais depressa por favor, dançar num compasso por inventar. Há não ter medo. Fechar entre o bolso e o peito aquelas coisas que me deste de presente. O norte, o chão e o horizonte. A vida toda. Sabes? Ter-te aqui. E falar baixinho só porque sim. Porque é tarde, ou cedo, ou só porque é urgente partilhar o lado secreto das palavras. Ter-te aqui. E saber que me seguras. A mão, o cabelo e o sorriso. Sabes? E não saber, sabes? Gostar só. Muito. Gostar sem legendas. Gostar sem alfabetos. Gostar pelo colarinho e perder o fio à meada. Porque o novelo não quer saber de gaiolas. E gostar mais, um bocadinho ou tudo, sem querer saber de mais nada. Sabes?