Friday, August 21, 2009

Noite de Verão

devia ter percebido, que aquela seria a nossa última noite de verão.

o sol tinha demorado a esconder-se e no ar pairava uma brisa intensa a areia queimada e a maresia. a calçada da rua guardava as conversas e os silêncios de um dia que só agora parecia descansar. no céu permanecia uma cor laranja fogo, talvez um prenúncio do que iria acontecer.

ao sair de casa, vinha apressada e alheia a tudo isto. pensava em ti e no último - longo – mês partilhado ao telefone. tentava recordar-me de todos os pormenores do teu rosto. os olhos azuis tímidos, que tantas vezes me falavam enquanto nos olhávamos em silêncio. a boca pequena e delineada, que tão bem se fundia na minha. as covinhas das bochechas, que mostravas em segredo, porque só alguns momentos merecem um sorriso. e o teu cheiro (será a baunilha?...) que me fazia tropeçar em ti onde quer que estivesse.

até que te avistei, ao longe, e o meu coração correu para ti, meu amor, mas os meus pés teimaram em caminhar lentamente, para te saborear sem pressa. quando sorri e baixaste os olhos julguei que se devia à timidez da saudade. agora sei que, mais uma vez, os teus olhos me falavam em surdina.

primeiro, a confusão. incertezas e meias verdades. recordo-me de dizeres que o nosso amor (ou disseste paixão?) te sufocava e que devia ser imenso o sofrimento de ser-se deixado por mim. acrescentaste, sem piedade, que este pensamento te perseguia de dia, e nem de noite te dava descanso.

depois, a raiva e o pânico. pelo que vivemos e pelo que se perdeu. por saber que era definitivo (há muito que deixamos de acreditar em segundas oportunidades). e os sonhos a dois? e a promessa de que ficarias comigo para sempre? e os beijos que ficaram por trocar? e os bilhetes que não escrevemos? e as palavras que não lemos? e a nossa vida, sem ti?

no fim, ficou apenas a dor, a imensa dor da despedida. saíste da minha vida tal como entraste, sem aviso prévio. dizias, com solenidade, que o melhor está no que vivemos entre o início e o fim das coisas. quem sabe se, mais uma vez, anunciavas o início do fim.

ainda hoje, detesto essa mania irritante de teres sempre razão,

meu amor.

1 comment:

CLÁUDIA said...

Tenho pena de não ter palavras.
Mas o que é certo é que não as tenho...

Geralmente é assim quando algo me toca fundo demais. Foi o caso.

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