Monday, October 18, 2010

A chegada

no dia em que te conheci não senti a estranheza do primeiro 'olá, tudo bem?', nem a ânsia de saber o que vai nesse olhar. não disparei as piadas típicas de menina que não se decide entre a razão e emoção, nem me preocupei com a roupa banal, escolhida à pressa na manhã que não espera por ninguém. não tive frio, mesmo sendo inverno, nem tão pouco me preocupei com o desconforto dos atropelos de quem passava por nós sem ter tempo para dizer 'tchau'. não procurei entrelinhas nas tuas respostas, nem sinais do destino nos pedacinhos de silêncio que deixamos pousados em cima da mesa de vidro. não me importei quando as nossas mãos se pespegaram no chocolate que partilhamos a meio da tarde, nem mesmo quando brincaste sem autorização com o laço do meu vestido ao mesmo tempo que falavas dos teus cheiros preferidos. no dia em que te conheci não tive pressa para saber tudo sobre ti, sobre a tua família, amigos, conhecidos, brincadeiras de infância, sonhos e vontades por cumprir. ao contrário, contentei-me com os pequenos 'nadas' que ias soltando à medida que o sol se preparava para dormir e a lua se punha cheia na alcatifa do céu estrelado. não reparei no desalinho do teu cabelo, nem se tinhas o risco à direita ou à esquerda, tanto faz, pensei. não deixei de sorrir quando escolhemos o mesmo doce e pedimos café sem acuçar para acompanhar. não estranhei me teres oferecido o guardanapo de papel onde escreveste qualquer coisa sobre a cor dos meus olhos, ou me queixei do cliché da rosa que 'sem querer' compraste ao marroquino que se sentou ao nosso lado. no dia em que te conheci achei-te tão inevitável como primeiro ser dia e depois noite. e amei-te, muito antes de saber o que éramos, o que podíamos ser e o que fomos, enfim.

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