Sunday, October 23, 2011

Chegadas

Caminhei muito. Caminhei até o cansaço me fazer refém. Adormeci ao relento numa noite sem lua, nem estrelas ou histórias de embalar. Não tive frio e acordei na companhia das andorinhas. Fiz-me de novo ao caminho com a brisa a tira-colo e sem bússola a apontar para norte. Atravessei rios e montanhas, entre a adolescência perdida e o resto dum passado que não volta mais. Corri em campos de malmequeres e escolhi querer tudo de novo. Fiz-me menina e moça, novamente, entre girassóis que não conhecem chuva ou solidão. E num qualquer dia de verão voei para sul. Dei cambalhotas, brinquei à queda livre até me cansar de ser livre e cair. Dancei na relva molhada e, com os pés descalços, fiz de Alice. Perdi-me muitas vezes. E, nas restantes, descobri que não há destino além do lugar onde se pisa. Ou se sonha. Tropecei nas grandes certezas que há no mundo até as desacreditar. Uma por uma. Recomecei. Olhei para trás e não reconheci o rosto das pegadas que me seguiam. Aprendi a escrever o meu nome em minúsculas e a respeitar as palavras que valem mais do que os gestos. Ouvi todos os sons do silêncio até lhes adivinhar manias e humores. Desenhei um arco-íris no fim do horizonte e nadei nua num oceano abandonado na margem duma praia de ninguém. Caminhei muito. Até te encontrar. E agora, eu sei, o meu país és tu.

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