Sunday, May 22, 2011

Não ter asas e saber voar

Não me deixes aproximar (mais). Afasta-te (de vez). Repele-me, esquece-me para sempre e, já agora, tranca o verbo amar no bolso das calças que não usas. Não te quero ver (mais) nem (tão pouco) sentir esse teu cheiro que me atrai e me irrita, me irrita ou me atrai e que, no fim do dia, só me irrita. Não envies sinais de fogo nem acendas fogueiras que não consegues apagar. Deixa-me (de vez). Pendura-me num papagaio e lança-me pelo ar. Eu sei que o vento vai levar-me numa valsa pelas noites de verão. Como tu fazias quando eu amuava e acreditava que o mundo tinha acabado para nós. Impede-me de tropeçar nas fotos felizes e nas cartas encantadas, faz (mais) um esforço e dá-me (outra vez) a mão senão é desta que caio na armadilha do teu sorriso. Bem sabemos que nele se vivem dias sem descanso. És um pecado mortal, uma gula teimosa, um mal-me-quer disfarçado de girassol. E eu, que fui bailarina na palma da tua mão, cansei-me de (tanto) rodar. Enjoei este vício de ti. E queria ter náuseas e tonturas, dizer maledicências, lançar-te um feitiço (talvez). Não consigo fazer mais nada senão desatar (aos poucos) o nó do laço que prende a minha saia ao teu colarinho. E juro-te, meu (quase) querido ex amor, que numa destas manhãs será apenas a saia que encontrarás no fundo da cama.

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