Wednesday, May 11, 2011

Desta vez é para ti

(Afinal) Não és destino. Não és, garanto. És terminal de aeroporto. Tanto quanto sei, és o maior de todos. Pólo de atracção, esfera de influências, gatilho de oportunidades. És o estar a chegar e o quase a partir. Ponto de passagem. Conforto imediato do café que se toma de pé, revista com janela para o mundo, máquina descartável sem modo automático. Vendilhão de fantasias, confidente de promessas, altar de despedidas, albergue de afectos. Vês quem chega e quem se vai embora, por um momento ou para sempre, sem verter uma lágrima. Não te perturbas, não te aproximas, não te incomodas. Tão pouco te alimentas desta matéria agridoce de que são feitos os sonhos. Com a mesma leviandade conquistas quem entra como quem sai, sem nunca revelar o verdadeiro rosto do teu beijo. Não distingues cheiros nem cores, não sabes que a alegria se cola aos dedos como chocolate e que a tristeza queima a língua e a alma. Nos tempos livres jogas à sueca, baralhas e voltas a dar, e na jogada seguinte é dia e pouco do que era te interessa. Ninguém sabe se sofres em silêncio, se cantas no chuveiro ou se tens medo de trovoada. Estás presente além das horas. Mas, às vezes, elas passam-te a perna e a seguir és passado, memória, bilhete no baú das coisas que não voltam mais. És refém de um tempo que não é teu, mas de quem passa e nem se digna em dizer ‘tchau’. És o maior terminal de aeroporto que conheço. E o teu coração ficou esquecido, sem dono, num cacifo cinzento dos perdidos e achados. Estar contigo nem é estar, perdão, é ficar. Ficar por uns minutos, esperar sem adormecer, ficar sem nunca perder de vista o essencial: a hora de embarque para qualquer coisa de bom entre o céu e a terra.

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