Tuesday, April 12, 2011

Nada (que é nosso) se perde

Pediste ao mundo para fazer um minuto de silêncio e ele, sem estar habituado a tais desígnios, obedeceu-te. Os oceanos fundiram num só, os montes viraram caminho, os abismos adormeceram nos vales e há quem jure ter visto o céu a mergulhar em queda livre numa ilha deserta. Pararam as valsas, as poesias, os dramas e as sinfonias. Perdeu-se o rasto da tristeza, da melancolia, da saudade e da alegria. Todas as coisas se fecharam em vácuo e só o eco do nosso abraço se fez presente no momento em que paraste todos os relógios. Pediste ao mundo para fazer um minuto de silêncio e eu não te fiz esperar mais. ‘amo-te’ disse, primeiro devagar e a medo, depois mais depressa e a sorrir. ‘amo-te’ outra vez. Uma letra a seguir à outra, todas as letras numa só, a fonética e a semântica de mão dada, como nós. ‘amo-te’ além do tempo, roubado, ‘amo-te’ daqui até à lua (onde sabemos que há um lugar só nosso que não conhece coisas impossíveis). No minuto seguinte, sem ninguém reparar, seguimos viagem no teu cavalo branco.

E não olhamos para trás.

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