Thursday, January 06, 2011

Não é mentira

passeias-te ao meu lado como um susto. nunca tive soluços, mas estremeço só de sentir esse teu aroma agridoce que às segundas se mascara de barba por fazer e às sextas se veste de preto integral. és louco e perigoso, e quando queres és lindo e irresistível. e eu, que tenho medo de alturas, brinco à cabra cega no limbo que separa a vertigem do teu sorriso e o abismo do teu olhar. um dia destes vou tombar de tanto desejo. se calhar nem é desejo, é o intervalo entre o muito bom e o péssimo. qualquer coisa séptica entre a paixão e o ódio. um sentimento-tormento que está ainda por inventar, por traduzir, quem lá andou sabe do que falo. e não sabe, sente o que falo. sente o coração a latejar de pânico, desesperado e a gritar socorro ‘alguém me acuda que desta não me safo’. na maior parte das vezes tem razão, há uma emergência: a casa está a arder, e o coração morre queimado.

tenho quase a certeza que me vais esborrachar contra a parede com essa tua mania irritante de me olhar de cima para baixo. eu sei lá o que é isso. só sei que nem de gaiolas gosto, mas vejo-me a contar os minutos para as seis da tarde, a hora do encontro marcado com o teu sobrolho levantado junto à porta do elevador. ‘tu primeiro’. caramba e esse vício de seres politicamente correcto, cavalheiro que engana-tolas (ou todas), por um triz não me atira abaixo dos tacões. componho-me e agradeço, sem tu ouvires digo aos anjos para irem a correr avisar o senhor do condomínio que a máquina sobe-e-desce tem de parar neste instante entre o primeiro andar e o rés-do-chão, se faz o favor. eu nunca dei muito trabalho é só um favor, juro que não peço mais nada, até faço um sacrifício qualquer, um daqueles penosos, muito difíceis ou quase impossíveis.

eu prometo: se me concederem 5 minutos de tempo interrompido contigo – meu amor – eu penso seriamente em te esquecer.

prometo.

nem que ande a vida inteira a cumprir a promessa.

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