Wednesday, January 19, 2011

Fatalidades

Então és mais velho que eu. Para falar verdade, isso não me importa muito. Importa-me mais o atrevimento das tuas mãos, o nariz arrebitado e, definitivamente, o jeito do teu cabelo quando se zanga com o pente. Não importa que me trates como uma miúda, a sério que não, viro costas ao paternalismo e saio à rua de saltos, cigarro em riste e saia travada. Tão-pouco importa que o meu riso estridente te embarace e que só atravesses a rua na passadeira. Um dia destes tiro algum tempo e explico-te que as ruas desertas podem ser atravessadas em qualquer lugar. E se estivermos de mãos-dadas nada de mal pode acontecer. Não importa que me tires o sono, o chão, a fala e a fome. Eu sobrevivo, não faz mal, eu sobrevivo se prometeres que um dia podemos ficar juntos em qualquer lugar que não aqui, onde todas os caminhos dão a um beco sem saída. A este beco onde tu não estás. Não importa o teu mau gosto com as camisas e os fatos escondidos no armário. Importa-me mais esse jeito de homem. Eu sei lá o que é isso, sempre tive queda para miúdos, tontos e desmiolados, que brincam ao faz de conta e desaparecem sem deixar rasto (antes assim, nunca fui boa a dizer adeus). Ouviste bem, importa-me mais esse jeito de homem que sabe tudo, que caminha sem pressa, que segura a vida como tem de ser: pelo pulso. Importa-me, acima de tudo, este quase gostar muito de ti. Este quase gostar muito que, afinal, é mais que muito: é demasiado. Um demasiado que mete medo. E isto é tão grave como faltar o ar. Se, de repente, o mundo ficasse sem oxigénio a consequente catástrofe não causaria tanta mossa como este quase gostar muito que, para que saibas, às vezes não é quase, é gostar muito de ti,

meu amor.

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