Sunday, March 20, 2011

Sem bússola

Eu sou norte, tu apontas para sul. Às vezes os astros conspiram e tropeçamos um no outro na terra que não conhece rosa-dos-ventos. Eu brinco com a semântica, tu desconfias das palavras que não sabes pronunciar. Falas devagar, descansas no silêncio das entrelinhas, ris de quem se julga dono da razão. Eu gosto de dizer disparates. Tu gostas tanto de disparates como de mim. Ou mais de mim, não sei e não faz mal. Tu és avesso a perguntas, eu evito as coisas banais. Eu sou menina disfarçada de mulher. Tu és o homem que me segura pela mão e me deixa ser quem eu quiser. Contigo sou estrela e céu azul. Sou sol de verão. Sou o que se vê deste lado da janela, sou também o parapeito onde te pousas e descansas. Contigo não há amarras, nem prisões, nem quartos trancados no fundo do corredor. Não há ‘talvez um dia, quem sabe’. Não há medos. Há urgências e coisas que fazem sentido. Há o sim vestido de juíz e o arco-íris que sai à rua sem chuva. Contigo não há tempo a perder, só dias para viver e noites sem almofada. Tu és as reticências que esperam pacientemente pelo meu ponto final. Eu sou prosa, tu poesia. Juntos fazemos magia e eu sei que, um dia, seremos história de encantar. Somos salteadores de sonhos. Brincamos com o sexto sentido e fazemos castelos na areia. Não temos vergonha. Eu sou daqui, tu não és de lado nenhum. E aos domingos fazemos planos para ter uma casa na lua. Eu sou fogo e tu fluis como a água. E quando escorregas, amor, é a minha mão que te leva de regresso a casa. Tenho a certeza: nós os dois somos mais que dois. Somos três, quatro, cinco, se calhar somos o mundo inteiro à nossa volta. Há dias em que somos um beijo mais que perfeito. Doutra coisa tenho a certeza: enquanto houver ‘eu’ e ‘tu’ o verbo amar nunca mais se sentirá sozinho.

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