Thursday, March 18, 2010

A Primavera que está a chegar

não escolheste o melhor dia. não tinha vestida a roupa comprada na véspera, nem os olhos pintados de azul. as mãos estavam secas de tanto brincar com o frio e o cabelo fintava o vento que parecia não dar tréguas. o sorriso ficou esquecido nas prateleiras duma casa qualquer e o abraço foi empurrado escadas abaixo. não trazia as cartas que te escrevi nas noites sem descanso, nem o perfume das tardes de verão. não avisei o carteiro, nem os vizinhos da frente. não fiz a cama de lavado, não troquei os cortinados já gastos pelo sol. não reservei a mesa à janela no restaurante de todas as promessas. não pedi à chuva que parasse por um segundo, nem sequer rezei para que o inverno batesse com a porta.

apareceste-me, (pois claro), como o frio na barriga sem aviso prévio. e o teu coração, altivo e orgulhoso, arrastou-me vida fora.