Wednesday, April 21, 2010

Gelado de morango

no dia em que roubarmos o tempo tu vais-me buscar cedo a casa. e eu, sem surpresa, vou trazer ainda o cheiro dos lençóis largados num impulso e a carteira com uma mão cheia de beijos (para te dar só depois do almoço). tu levas o sorriso solto no bolso de trás e o cabelo desalinhado da noite passada sem dormir. eu uso um vestido amarelo para te lembrar que o sol se juntou a nós (mesmo sem pedirmos muito). vou dizer-te ao ouvido uma ou duas coisas sem sentido, confessar um segredo duma tarde qualquer e adivinhar as perguntas que não esperam pela resposta. e tu, sempre tu, vais pegar-me ao colo e rodar-me numa valsa, parando pelo meio para olhar sem ver quem passa.

nesse dia, roubado, o tempo não será de mais ninguém senão nosso. porque todas as coisas vão ser possíveis. todas. mesmo as que não sonhamos. no dia das coisas impossíveis vamos voar de mão dada e rasgar o céu azul a saber a verão. e quando estivermos cansados, sei que vamos partilhar com a lua um gelado de morango junto às gôndolas que nos levarão de volta a casa.

Thursday, April 15, 2010

Quando a vida se interrompe

digo-te não. embalas-me na tua dança e eu troco o não por um talvez, quem sabe. chega o depois e tu, silencioso, esperas por mim no fim da rua que virou avenida. roubas-me o beijo sem promessa. eu arrisco (por que não?). a seguir vem a madrugada, serena, trazendo no sorriso o voo encantado das andorinhas. eu recuo (porque sim). é tarde, afinal. é tarde e o mundo espera-me na estação do costume. desculpa, comprei bilhete só de ida. mas deixo-te uma carta no banco do comboio. lá dentro, o meu coração, diz-te assim:

esgotamos as palavras
(meu) amor.

Wednesday, April 07, 2010

As coisas importantes que não são coisas

olha-me devagar e pousa no meu colo as flores que roubaste no jardim da vizinha. ouve as histórias que nem sempre ou quase nunca fazem sentido. mata saudades do cheiro a baunilha do meu cabelo e serve-te de beijos ainda salgados do último banho de mar. deixa para depois o que não importa e ri baixinho para não assustar o vento que tropeça em nós. brinca com o laço do meu vestido e diz-lhe que o cetim fica-me a matar. confessa que gostas e que queres mais, sempre mais. se quiseres, e vieres para ficar, prometo que te dou a primavera de presente.